Amy, por você ser de outra geração, você sente que pra você começar foi mais fácil do que pra elas?
AA: Bom, acho que há uma falta de perspectiva se olharmos do meu ponto de vista. Dito isto, eu sinto muita gratidão em relação às mulheres que construiram o caminho, não só no cinema, mas também no mundo. Tipo, ouvir a Nora e como foram algumas das experiências dela com a Casa Branca e a imprensa. E estar naqueles escritórios esfumaçados com todos aqueles meninos, sabe? E a Meryl e todo o trabalho que ela conquistou e o respeito dela, com certeza cimentaram o caminho, não apenas para as atrizes mas também para as mulheres. E eu sou grata por isso, então eu realmente acho que elas abriram o caminho. Mas nós ainda temos que andá-lo por nós mesmas, mas elas abriram.
Eu gostaria de perguntar sobre uma das subtramas do filme, sobre amizade feminina. Porque é interessante que os homens são fantásticos e compreensivos, mas já as amigas da Julie...Você poderia falar um pouco sobre o que isso diz sobre as mulheres e amizades?
NE: Sabe, eu acabei de ler uma matéria muito briguenta em algum lugar, acho que foi no Wall Street Journal ou algo assim, não consigo me lembrar direito. Foi escrita por uma mulher que tinha lançado um livro sobre amigas mulheres e ela estava muito nervosa porque dizia que as amizades femininas são sempre distorcidas nos filmes. No cinema elas são mostradas como alegres e fabulosas... e eu pensei "Bom, espera então até ela assistir ao nosso filme!". [risos]
Eu me diverti muito com isso, porque comecei com a verdade, que era que Julia e Simca estavam bravas com a Louisette, porque ela nunca aparecia. E aí elas tiveram realmente uma discussão sobre qual percentual do dinheiro Louisette ia receber. Foram meses de negociação e aí acabou que, depois, elas ainda conseguiram ainda mais vantagens. Depois que o livro se tornou um sucesso eles baixaram os royalties dela ainda mais. Então eu tinha isso de fato em um lado da história, então pensei que seria divertido ter um pouco disso no outro lado. Mas eu acho que as mulheres podem ser amigas fantásticas, mas isso não é tudo o que acontece. As mulheres também são competitivas e ciumentas, assim como seres humanos normais. E foi divertido mostrar um pouco disso.
Vocês duas tiveram só uma cena juntas, certo? Vocês poderiam falar um pouco sobre ela e como foi filmar?
MS: A última cena da Amy era o meu primeiro dia. E fizemos turnos a noite mas nós já tínhamos nos entrosado muito em Dúvida, que ela tinha encerrado duas semanas antes que nós começassemos a filmar Julie & Julia então, nós não tínhamos uma cena juntas. Mas nós nos encontramos num corredor.
AA: Mas eu devo dizer que toda a vez que eles mudavam a iluminação me dava calafrios porque eu sabia que você ia entrar.
Amy, a sua personagem está em um momento de passagem, porque vai fazer 30 anos. Você se identifica com isso? Eu vi nas anotações que você disse que se sentiu assim antes.
AA: Foi quando eu estava fazendo 30 anos, exatamente. Foi no verão antes do meu aniversário, eu tive toda uma crise de identidade. Me perguntava: O que eu estou fazendo? Quem sou eu? O que eu gostaria de estar fazendo? Quem é você? O que eu estou fazendo aqui? Questinonava tudo, não houve uma pergunta que eu não fiz a mim mesma.
MS: Eu acho que os atores tem essa crise a cada ano de suas carreiras. Eu com certeza tenho. Porque você nunca sabe o que está fazendo. Sabe, em minha carreira eu estive mais desempregada do que trabalhando, apesar de estar trabalhando durante o que me pareceu cada segundo da minha vida. Mas, na verdade, isso é bom pra mim porque eu tenho uma família e assim eu tenho mais tempo pra eles. É algo diferente. Mas eu acho que atores, por necessidade, sempre se questionam se isso é mesmo uma coisa que vale a pena. Porque é tão incerto, você depende da vontade de outras pessoas. Você nunca se sente seguro, mas para mim é ótimo.
Meryl, como você escolhe um roteiro hoje em dia? É pelo diretor, é porque você quer fazer algo completamente diferente?
MS: Normalmente eu escolho pelo roteiro, pela escrita, a boa escrita. Eu não sei exatamente o motivo. Os roteiros que eu pego nem sempre são óbvios. Isso é algo que me atrai. Mas também existe uma coisa, a voz particular de cada coisa, que parece única e faz com que eu queira me envolver naquilo. Neste filme, eu adorei o roteiro no minuto em que eu o li, mas eu não achei que fosse dar certo. Achei que era só um palpite e que eles nunca dariam dinheiro para fazer algo tão unicamente sutil, com tantas nuances e centrado no feminino, em que os homens não são problemas e que não há crianças. O filme é sobre a relação com o trabalho, é tudo, tudo muito diferente e normalmente isso os assusta, mas não assustou.
NE: Olha, eu acho que eles ficaram assustados, mas aí a Meryl disse que ia fazer o filme e isso os acalmou. Sabe, porque essa gente não é corajosa, eles querem uma rede de segurança.
Mas esse filme não me pareceu um filme normal e comercial.
MS: Ele era peculiar, ao extremo.
NE: Sim, é verdade. Eu não pensei nele como um filme de arte. Eu pensei que era uma coisa estranha que não era um filme grande, de 80 milhões de dólares. Então ok, eles não iam nos dar 80 milhões de dólares e teríamos sorte de conseguir locações em Paris, e nós conseguimos!
Vocês entraram mesmo na experiência gastronômica, sairam muito para comer enquanto estavam fazendo o filme?
MS: Eu entrei. Eu encarei esse papel como uma gravidez, era uma desculpa. Eu não tinha que me preocupar, não era uma gatinha glamurosa.
AA: Pra mim foi logo depois de Dúvida, e eu já tinha usado as roupas de freira como desculpa, foi apenas uma extensão, para mim.
Você realmente provou todas as receitas que estava cozinhando?
MS: Sim, quase todas. E tinha tantos pratos feitos, caso a gente errasse alguma coisa. Então não tinha uma tortinha, tinham 20. A equipe gostou, foi a equipe de filmagem mais feliz de Nova York.
NE: A equipe realmente ganhou uns quiilos.
Nora, as dificuldades de Julia Child se parecem com muitas das suas dificuldades na indústria cinematográfica. Ela estava num mundo dominado por homens. Você vê esse paralelo?
MS: É, eu nunca tinha pensado nisso.
NE: Sim, mas não no mundo dos livros de culinária. Muitas mulheres tinham escrito livros de culinária. O livro que é empurrado na mesa foi um livro que nós inventamos, na vida real aquele livro era um grande best-seller escrito por uma mulher.
MS: Era outra platéia, no entanto. Julia Child mudou a culinária para as pessoas que não gostavam de cozinhar. Não foi o livro Mastering the Art of French Cooking, mas o programa dela na televisão, que levou pessoas a pensar "quem sabe eu faça Bouillabaisse", sabe? Não parecia tão difícil e ela fazia as pessoas terem vontade.
Fonte: Omelete Entrevista: Meryl Streep, Nora Ephron e Amy Adams
Uma conversa com as protagonistas e a diretora de Julie & Julia
Érico Borgo
27 de Novembro de 2009
Érico Borgo
27 de Novembro de 2009
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