Depois de me conscientizar de que jamais terei contato pessoal com Meryl... senti-me mais frágil, mais sensível.
Não sou pessoa que viva nas nuvens, mas alimentei a esperança de um dia avistar-me com ela. A Esperança é perigosa. Ela dá expansão aos sonhos e, se você não cuidar, terá uma vida sólida, sim. mas a imaginação crescente acaba por camuflar um pedaço da sua realidade.
Você alimenta a imaginação com o que lhe faz feliz, obviamente. Acontece que a espera vai se tornando longa, e uma tristeza diáfana vai tomando conta de você, bem devagarinho... até que seus pés vão ao chão com toda a força. Pronto: os castelos de ilusão que se formaram, aparentemente firmes, esfarelam-se diante do seu olhar atônito.
Agora o processo é outro, meio que um retrocesso, para você retornar ao ponto de partida, para rever e reconstruir a sua nova realidade, a verdadeira... e se acostumar a ela. A Esperança não será "a última que morre". Muito antes disso, ela já lhe abandonou, friamente. Os sonhos?... Daqui em diante... só se você estiver dormindo. E eles se tornam fantásticos, até absurdos! Desta forma você ficará com os pés pregados no solo, para sempre.
Sonho complexo: eu era uma mulher descalça e maltrapilha, com um grande coração e um excelente cérebro pensante. Fui levada para um castelo de mármore (sala enorme). Caí de joelhos no primeiro lance da escada que alcançava o Trono Real. Cabeça baixa - humildade e medo - esperando pelo destino que me estaria reservado. Ouvi uma voz feminina, doce, porém muito firme: "Levanta-te e vem." Fui subindo, os olhos baixos - "o que será de mim?".
Veio a pergunta: "O que fizeste para necessitares do meu perdão?" Respondi, num fio de voz. "Escrevi." (Era um julgamento!) "Sobre?..." Respondi, trêmula: "Sobre a minha atriz favorita..." (Silêncio.) "Quem é esta?" "... a Meryl Streep, Majestade." Ouvi um vozerio. "Falaste mal?... "NÃO, SENHORA! ELA É UM EXEMPLO DE PESSOA!"
O que se seguiu foi um choque para mim. Uma gargalhada inconfundível e eu, no susto, olhei para ela. Era a própria, linda! Vestida de Rainha, decote, boa parte exposta dos seios, apertados no espartilho. Estava coberta de ouro e pedras preciosas. A coroa, magnífica, muito bem colocada na nobre testa. Meryl resplandecia. Fiquei extasiada com aquela visão. Ela estendeu a mão para mim, chamou as suas damas, dizendo: "Cuidai dela. Vesti-a com dignidade e elegância, como leal Dama da Corte, porque assim será, daqui para sempre." Pensei, maravilhada: "morri e estou no céu!"
Na verdade, um sonho assim é pura fantasia! Acho mesmo é que estou enlouquecendo...