Recebi um presente: uma entrevista com Meryl, antiga, mas muito interessante.
Tenho uma amiga, desde 1977, quando inauguramos uma escola da Prefeitura e nela trabalhamos até nos aposentar. Ela também gosta muito de Meryl. E uma senhora, sua conhecida, resolveu se desfazer de uma coleção de revistas que estava ocupando um espaço excessivo. Apesar de estarem muito bem conservadas, aquela senhora desistiu de vender a coleção e resolveu doá-la para uma instituição de caridade. Minha amiga, folheando algumas, descobriu a entrevista e me telefonou perguntando se me interessava. Ora, claro que sim! Vocês sabem, é difícil uma publicação nacional, falando de Meryl. Bem, ela tirou uma cópia e me deu de presente. Exultei. Depois descobri essa mesma entrevista no Simply Streep. Devido à coincidência, achei por bem postá-la, no meu Meryl-blog. Aí vai:
A mulher que entra pisando macio, usando um vestido leve de seda florida, na sala da suíte de um hotel em Beverly Hills, não passaria por uma das maiores estrelas de Hollywood, se minha agenda não a denunciasse:10 horas, entrevista com Meryl Streep. Ela se senta diante de mim, pede chá, olha de relance através da janela - "Acho sempre estranho estar em Los Angeles. L.A. é inteiramente diferente do restante do mundo." - e em pouco tempo consegue criar um clima descontraído. Com outras divas, essa tarefa geralmente caberia ao entrevistador. Nesse momento Meryl Streep não é nenhuma de suas múltiplas personagens. Traços finos, uma beleza simples, sem maiores requintes, ela revela, numa rápida troca de palavras, um cortante senso de humor. Sua inteligência é rápida; seu foco de atenção, preciso. O entrevistador nunca tem certeza se é ele mesmo que observa ou é observado, quando os olhos luminosos de Meryl pulam de um canto para o outro. "Eu observo muito as pessoas. É uma mania. É meu trabalho." - define. Dessa combinação tão rara - inteligência, observação, sensibilidade, humor e beleza-Meryl Streep compôs uma carreira espetacular, no cinema americano. Ela é uma atriz, segundo alguns críticos, capaz de fazer chorar em quinze sotaques diferentes. E nunca simplesmente interpreta papéis, como se fossem máscaras. Um divulgador de estúdio, de Hollywood me assegura que ela 'rearruma sua alma para cada personagem'. Quando as personagens não a visitam, contudo, Meryl continua sendo uma mistura fascinante de várias coisas diferentes.
Mãe de quatro filhos, um menino e três meninas - a menor de apenas seis meses de idade - e mulher do artista plástico Donald Gummer, é também uma militante combativa por melhores salários e melhores papéis para as mulheres, na indústria do cinema. "As pessoas não sabem, mas nessa glamorosa indústria as mulheres ainda recebem 40 a 60 centavos de cada dólar do salário pago a um ator homem. E isso me irrita profundamente." Apesar disso, Meryl Streep se esforça para manter o bom humor. Pode não parecer mas ela é uma pessoa muito, mas muito engraçada. "Sempre fui palhaça. As pessoas é que pensam que sou séria." Falando à colaboradora de Claudia, em Los Angeles, ela se mostrou por inteiro. Confira:
Claudia: 'Lembranças de Hollywood', seu filme mais recente, é um retrato pouco elogioso da indústria cinematográfica. Quanto de ficção você colocou em sua personagem?
Meryl Streep: " Bom, esse filme é realista, não? É quase um documentário ( o filme é baseado na biografia da atriz Carrie Fisher, filha de Debbie Reynolds e Eddie Fisher, ambos também atores). As pessoas estão acostumadas a me ver em outro lugar, em outro tempo, e eu vou a qualquer lugar e período que a história exija. Basta que ela seja boa. Mas esse papel é muito, muito próximo de mim, da minha experiência. A mistura de cinismo e determinação em permanecer otimista... minha relação com minha mãe... o modo como Hollywood trata as mulheres..."
C: E como Hollywood trata as mulheres?
MS: " Frequentemente, como um pedaço de carne. Eu já tive um produtor dizendo, na minha frente, que eu não servia para o papel porque era muito feia. Um outro insinuou que eu não era sexy o suficiente para fazer 'Out of África". Você se sente como um pedaço de carne muitas, muitas vezes. Veja os papéis que, em geral, são oferecidos às mulheres: em 20% dos filmes, elas entram nas histórias como vítimas - alguém que é mutilado ou, na melhor das hipóteses, que vai para a cama com o herói. Eu cresci com um tipo diferente de imagem feminina, nas telas. Cresci assistindo gente como Katharine Hepburn. Hoje, o que temos? Vítimas ou prostitutas. "
C: E por que Hollywood maltrata as mulheres?
MS: " Não sei. Por que é tão mais difícil, para as mulheres, trabalhar nesse ofício? Eu não tenho a resposta mas esta é a grande questão do universo, não? "
C: Alguma luz no fim do túnel?
MS: " Não apenas não consigo ver sinal de melhora, como vejo a situação ficando cada vez mais deprimente. Os estúdios não são mais dirigidos por pessoas que gostam de cinema , e sim, por gente do mundo financeiro. Antigamente, os chefes dos estúdios eram uns sujeitos malucos - alguns até mau caráter - mas eles adoravam o cinema. Hoje, não. Agora querem fazer contratos de software ou investimentos imobiliários. Ninguém se envolve pessoalmente com os filmes que faz. A única coisa que querem saber é quanto dinheiro um filme vai gerar, no menor espaço de tempo possível. É por isso que se vê tanto lixo circulando por aí. Não critico nenhuma atriz por se envolver com o lixo, e o lixo rouba um pedaço substancial de sua alma. "
(continua)
A mulher que entra pisando macio, usando um vestido leve de seda florida, na sala da suíte de um hotel em Beverly Hills, não passaria por uma das maiores estrelas de Hollywood, se minha agenda não a denunciasse:10 horas, entrevista com Meryl Streep. Ela se senta diante de mim, pede chá, olha de relance através da janela - "Acho sempre estranho estar em Los Angeles. L.A. é inteiramente diferente do restante do mundo." - e em pouco tempo consegue criar um clima descontraído. Com outras divas, essa tarefa geralmente caberia ao entrevistador. Nesse momento Meryl Streep não é nenhuma de suas múltiplas personagens. Traços finos, uma beleza simples, sem maiores requintes, ela revela, numa rápida troca de palavras, um cortante senso de humor. Sua inteligência é rápida; seu foco de atenção, preciso. O entrevistador nunca tem certeza se é ele mesmo que observa ou é observado, quando os olhos luminosos de Meryl pulam de um canto para o outro. "Eu observo muito as pessoas. É uma mania. É meu trabalho." - define. Dessa combinação tão rara - inteligência, observação, sensibilidade, humor e beleza-Meryl Streep compôs uma carreira espetacular, no cinema americano. Ela é uma atriz, segundo alguns críticos, capaz de fazer chorar em quinze sotaques diferentes. E nunca simplesmente interpreta papéis, como se fossem máscaras. Um divulgador de estúdio, de Hollywood me assegura que ela 'rearruma sua alma para cada personagem'. Quando as personagens não a visitam, contudo, Meryl continua sendo uma mistura fascinante de várias coisas diferentes.
Mãe de quatro filhos, um menino e três meninas - a menor de apenas seis meses de idade - e mulher do artista plástico Donald Gummer, é também uma militante combativa por melhores salários e melhores papéis para as mulheres, na indústria do cinema. "As pessoas não sabem, mas nessa glamorosa indústria as mulheres ainda recebem 40 a 60 centavos de cada dólar do salário pago a um ator homem. E isso me irrita profundamente." Apesar disso, Meryl Streep se esforça para manter o bom humor. Pode não parecer mas ela é uma pessoa muito, mas muito engraçada. "Sempre fui palhaça. As pessoas é que pensam que sou séria." Falando à colaboradora de Claudia, em Los Angeles, ela se mostrou por inteiro. Confira:
Claudia: 'Lembranças de Hollywood', seu filme mais recente, é um retrato pouco elogioso da indústria cinematográfica. Quanto de ficção você colocou em sua personagem?
Meryl Streep: " Bom, esse filme é realista, não? É quase um documentário ( o filme é baseado na biografia da atriz Carrie Fisher, filha de Debbie Reynolds e Eddie Fisher, ambos também atores). As pessoas estão acostumadas a me ver em outro lugar, em outro tempo, e eu vou a qualquer lugar e período que a história exija. Basta que ela seja boa. Mas esse papel é muito, muito próximo de mim, da minha experiência. A mistura de cinismo e determinação em permanecer otimista... minha relação com minha mãe... o modo como Hollywood trata as mulheres..."
C: E como Hollywood trata as mulheres?
MS: " Frequentemente, como um pedaço de carne. Eu já tive um produtor dizendo, na minha frente, que eu não servia para o papel porque era muito feia. Um outro insinuou que eu não era sexy o suficiente para fazer 'Out of África". Você se sente como um pedaço de carne muitas, muitas vezes. Veja os papéis que, em geral, são oferecidos às mulheres: em 20% dos filmes, elas entram nas histórias como vítimas - alguém que é mutilado ou, na melhor das hipóteses, que vai para a cama com o herói. Eu cresci com um tipo diferente de imagem feminina, nas telas. Cresci assistindo gente como Katharine Hepburn. Hoje, o que temos? Vítimas ou prostitutas. "
C: E por que Hollywood maltrata as mulheres?
MS: " Não sei. Por que é tão mais difícil, para as mulheres, trabalhar nesse ofício? Eu não tenho a resposta mas esta é a grande questão do universo, não? "
C: Alguma luz no fim do túnel?
MS: " Não apenas não consigo ver sinal de melhora, como vejo a situação ficando cada vez mais deprimente. Os estúdios não são mais dirigidos por pessoas que gostam de cinema , e sim, por gente do mundo financeiro. Antigamente, os chefes dos estúdios eram uns sujeitos malucos - alguns até mau caráter - mas eles adoravam o cinema. Hoje, não. Agora querem fazer contratos de software ou investimentos imobiliários. Ninguém se envolve pessoalmente com os filmes que faz. A única coisa que querem saber é quanto dinheiro um filme vai gerar, no menor espaço de tempo possível. É por isso que se vê tanto lixo circulando por aí. Não critico nenhuma atriz por se envolver com o lixo, e o lixo rouba um pedaço substancial de sua alma. "
(continua)
Isso é q é ser fã
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