Tudo que se fala, me interessa, especialmente, tratando-se de Meryl. Esta matéria foi republicada hoje, mas é de 24 de fevereiro de 2012. Gosto das colocações que fazem ela. São opiniões de outras pessoas, mas que endossam as minhas e de 8/9 (oito nonos) do mundo. Quando se pensa que se falou tudo sobre ela, descobre-se que Meryl é o Infinito personificado, e que a cada dia , novos fatos surgiram e novos sonhos se tornaram realidade, através de sua Alma, Escultora de Almas, a mais Perfeita Geradora de diferentes mulheres, que as telas de Cinema, do mundo, tiveram a felicidade de exibir.
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" O segredo de Meryl Streep "
Meryl Streep concorre ao Oscar, neste domingo, dia 26 de fevereiro.
Crédito: Divulgação/ Facebook
Para mim, sempre foi um enigma como Meryl Streep consegue ser indicada com tanta frequência ao Oscar. Note que nossos maiores ídolos — Robert De Niro, Sean Penn, Edward Norton (inclua quem você quiser) — disputam o prêmio uma vez aqui, outra acolá. Mas Meryl, não: já foi indicada 17 vezes. Desde 1984, concorre praticamente ano sim, ano não. Um assombro. Não existe, na história do Oscar, outro nome, homem ou mulher, com um desempenho tão extraordinário.
Meryl Streep concorre ao Oscar, neste domingo, dia 26 de fevereiro.
Crédito: Divulgação/ Facebook
Para mim, sempre foi um enigma como Meryl Streep consegue ser indicada com tanta frequência ao Oscar. Note que nossos maiores ídolos — Robert De Niro, Sean Penn, Edward Norton (inclua quem você quiser) — disputam o prêmio uma vez aqui, outra acolá. Mas Meryl, não: já foi indicada 17 vezes. Desde 1984, concorre praticamente ano sim, ano não. Um assombro. Não existe, na história do Oscar, outro nome, homem ou mulher, com um desempenho tão extraordinário.
O que mais me intriga é que Meryl não é um gênio. Entenda o que quero dizer: ela não tem perfil de gênio, aquela coisa doida, maluca, autodestrutiva. Não se envolve em escândalos, não dá declarações desastrosas, não diverte tabloides sensacionalistas. Pelo contrário, é uma mulher pacata, parece levar uma vida bem comum, tediosa até. Casada há 34 anos com o mesmo homem, tem quatro filhos, também normalíssimos.
Sempre acreditei que a atriz tivesse desenvolvido um processo de trabalho genial. Uma fórmula infalível para produzir excelência. Afinal, todas suas interpretações são acima da média; a maioria digna de prêmio. “Que processo eficiente é este?”, me indagava. E foi numa recente entrevista publicada no Estadão que encontrei pistas. Nas entrelinhas, a artista norte-americana sugeriu que não “entrava num papel”; mas sim buscava dentro de si o papel que sempre esteve lá. Vou explicar melhor, utilizando sua atuação mais recente, em A Dama de Ferro (pela qual também concorre à estatueta dourada).
Quando Margareth Thatcher chegou ao poder, em 1979, foi a primeira mulher a assumir o cargo mais alto do parlamento britânico. Como era de se esperar, ela enfrentou muito preconceito, resistência e descrença masculina. Para se firmar como líder, teve que criar uma carapaça, uma fachada aparentemente dura, fria e sem sentimentos. Caso contrário, seria considerada frágil e não apropriada para o cargo. Para interpretá-la, Meryl recorreu a uma passagem semelhante que teve em sua vida, quando integrou a primeira turma de meninas numa escola até então tradicional para homens. Em suas palavras: “Lembrei-me da época de colégio. Eu era uma das 16 meninas em meio a seis mil meninos. Foi uma volta a 1970. Alguns na minha época de colégio estavam felizes por termos conquistado aquilo, mas a maioria não. Eles pensavam que o padrão do colégio tinha diminuído.”
Para garantir seu espaço naquele ambiente inóspito e ameaçador, Meryl também teve de endurecer. Ao acessar aquela época e expressar seus sentimentos na tela, a atriz soou verdadeira e convincente no papel. Não é para menos: afinal, falava de si mesma. “Eu queria ser Margaret Thatcher, mas, no fundo, gostaria que aquela história fosse sobre mim”, declarou.
Outro indício de seu processo: na época em que a Dama de Ferro assumiu, as mulheres tinham que deixar a mesa quando os homens iam falar de assuntos sérios, como política. Novamente, a artista não precisou interpretar: “Eu vivi isso. Nós íamos conversar apenas sobre filhos ou moda. Fiquei muito interessada em usar o conhecimento que tenho daquela época no filme.” E quando o repórter perguntou “Como interpretar alguém que sofre de demência”, Meryl disse: “Tenho experiências suficientes, no meu dia a dia, de esquecer o que estava fazendo. Todos sabemos como é passar por isso.” Enfim, tudo indica que a atriz não entrou na pele da ministra, mas a ministra que entrou na pele da atriz.
Ao divagar sobre isso, lembrei-me de nossa atividade publicitária, por dois motivos. Primeiro, porque nós, criativos, também fazemos melhores trabalhos quando acessamos experiências reais. Não importa se banco, carro, cerveja, calcinha; todos tivemos pelo menos alguma relação com o produto em questão. Por mais que não criemos um “Primeiro sutiã”, no mínimo faremos um trabalho verdadeiro, interessante, talvez até tocante; já que quando falamos de sentimentos e emoções, somos universais. Por isso, antigamente, eu criava olhando anuários. Hoje, crio relembrando situações.
Ao divagar sobre isso, lembrei-me de nossa atividade publicitária, por dois motivos. Primeiro, porque nós, criativos, também fazemos melhores trabalhos quando acessamos experiências reais. Não importa se banco, carro, cerveja, calcinha; todos tivemos pelo menos alguma relação com o produto em questão. Por mais que não criemos um “Primeiro sutiã”, no mínimo faremos um trabalho verdadeiro, interessante, talvez até tocante; já que quando falamos de sentimentos e emoções, somos universais. Por isso, antigamente, eu criava olhando anuários. Hoje, crio relembrando situações.
Segundo, porque eu também tenho um método de trabalho, que chamo de “Interesse-se primeiro, o amor vem depois.” Não importa o job, eu procuro me interessar verdadeiramente pelo assunto. Mesmo que seja fertilizante ou arame, com o passar do tempo, o milagre acontece: criar passa a ser interessante e até divertido. Graças ao método, não existe job ruim.
Isso é o oposto do modus operandi tradicional. As pessoas querem amar primeiro e se interessar depois. São os criativos que esperam pelo job filé (aquele que fatalmente está sempre na mesa do colega ao lado) para darem o melhor de si, enquanto desperdiçam chances debaixo de seu nariz. Com essa mentalidade, podem até acertar de vez em quando. Mas jamais chegarão a um desempenho Meryl Streep. No máximo, serão uma Gwyneth Paltrow da propaganda.
*) Carlos Domingos, sócio e diretor de criação da Age Isobar, escreve todo mês para o Meio & Mensagem. Este artigo foi publicado na edição 1497, de 20 de fevereiro.
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