Meryl Baby

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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Meryl Streep, na Marie Claire, França (1)

           Ela foi indicada ao Oscar 17 vezes (com esta, por sua interpretação de Margaret Thatcher). Ainda assim, Meryl fica nervosa quando ouve seu nome, na premiação e tem crises de pânico, pensando no que vestir, para encarar o “red carpet".
          New York. Hotel Regency. Park Avenue. Os fãs esperam por Steven Spielberg, hóspede do mesmo edifício, sem reconhecer Meryl Streep que chega, escondida, em um volumoso suéter de lã vermelha. No meio da entrevista, arriscamos um elogio. Entretanto ela — cabelos presos, óculos opacos e pele clara, mas ao mesmo tempo corada — rebate: “A atriz genial, a maior de todas, a estrela... essa mulher não existe, é uma entidade criada pelos outros”, diz. O problema é que Meryl é, sim, genial. E está, especialmente, extraordinária, em "A Dama de Ferro", longa de Phyllida Lloyd, em que vive uma Margaret Thatcher já atingida, pela demência senil, e em diferentes momentos da sua vida, nos flashbacks, que remontam a história da política conservadora.

                                                                                   
          Dona de risadas contagiantes e expressões marcantes, Meryl Streep fecha os olhos de um jeito sensual, quando se concentra na reposta que quer dar. E os fixa, bem abertos, quando enfrenta o interlocutor. No dia anterior a esta entrevista, a atriz foi homenageada por Barack Obama, com a medalha Kenedy Center Honors, a mais alta distinção artística americana. Ela comemorou a recompensa, “bebericando com Robert de Niro, até as 3h da manhã, por isso... uma leve ressaca”. O que, claro, não impediu a melhor atriz do mundo (pronto, falei) de, diretinho, as palavras, para explicar porque gostou de interpretar Margaret Thatcher, uma mulher reacionária, mas também pioneira. Está aí o tipo de contradição que Meryl — convicta feminista de esquerda — adora.
          MC: Você nunca pareceu tão incorporada, quanto na pele de Margaret Thatcher...
          Meryl: "Também, suei bastante a camisa! Pelo menos 40%, do trabalho, foi físico. O roteiro tem, como foco, uma Margaret Thatcher de 80 anos, o que demandava uma maquiagem extremamente sofisticada, e uma posição cruel (levanta-se e imita a postura curvada, de uma velha senhora). Foi muito cansativo. Tudo que queria, quando saia dos sets, era um bom massagista."
          MC: O que você, democrata assumida, tem em comum, com a conservadora Thatcher?
         Meryl: "A paixão pelo trabalho e o fato de ser uma figura pública. As idiossincrasias de mulheres fortes e autoritárias são as que mais me fascinam. Thatcher era conservadora, mas foi uma das primeiras mulheres a chegar ao poder, o que, para mim, é uma conquista admirável. Os direitos das mulheres são a minha maior luta. Tanto que doei o meu cachê, de "A Dama de Ferro", ao National Women’s History Museum (museu virtual, que a atriz apoia, desde 1998 e busca transformar em um espaço físico em Washington, DC). Meu papel como atriz e contadora de histórias é dar voz às mulheres injustiçadas."
          MC: Ok. Mas qual é sua visão política de Margaret Thatcher?
         Meryl: "Lembro bem do ano 1979, quando ela foi eleita a primeira mulher, do Partido Conservador inglês. E em seguida, tornou-se a primeira — e única — mulher do Reino Unido a ocupar a pasta de Primeira Ministra. Eu era contra a sua política. Ideologicamente não me identificava com ela. Mas, ao mesmo tempo, me sentia entusiasmada pelo fato de uma mulher ter chegado ao poder, pela primeira vez, na história da Europa. Hoje, nos Estados Unidos, Thatcher talvez não fosse considerada conservadora. Ela era, surpreendentemente, a favor da legalização do aborto e preocupada com o aquecimento global. Alguns acham que ela consertou o país. Outros, que espezinhou os menos favorecidos.
          MC: Você chegou aos 62 anos, com muito viço e uma pele bonita. A que acha que se deve isto?
          Meryl: "Acho que tem a ver com o fato de que eu, quando pequena, já era velha. Se puxo pela memória, me vejo menina, em frente ao espelho, esmagando o rosto entre as mãos e contando exatas onze rugas. Ainda tenho as mesmas onze rugas só que um pouco mais marcadas. E tenho carinho por cada uma delas… Sempre gostei das mulheres maduras, em especial das minhas avós, que eu amava tanto."
          MC: Você é uma dama de ferro no seu dia a dia?
          Meryl: "Dama de ferro, eu? Só se for uma dama de ferro de passar! Já fiz muito isso na vida (faz o gesto de quem está passando roupas). E, ainda assim, se meus filhos têm algum problema, vão procurar o pai deles (o escultor Don Gummer, com quem Meryl se casou, em 1978). Você cria quatro crianças, da melhor maneira que pode. Dá tudo a elas e recusa papéis, para não ser devorada pela culpa materna, ainda assim, “voilá”, é dessa forma que elas te agradecem." (risos)

         (continua)

         Fonte: Marie Claire (França) Janeiro de 2012
                      Juliette Michaud
            
       


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