Paralelamente à Meryl Streep

                                                                             

        Até hoje, considerei a minha educação ortodoxa demais. A partir de hoje, não a considero tanto assim. Até prefiro que tenha sido dessa forma. Meryl também foi educada na mesma época, com as mesmas características, próprias dos que nasceram após o término da Segunda Grande Guerra (1945): sou de 47 e ela, de 49. Palavra de ordem: rigor. A saber: grande severidade de princípios, de moral, de atitude; ausência de qualquer desvio; respeito ao próprio limite, para não invadir ou prejudicar o direito do outro; austeridade.
       Católica, minha religião foi um pouco mais flexível que a dela, presbiteriana - Meryl confirmou isso em recente entrevista. Então, fomos criadas para sermos pessoas de bem: sérias, responsáveis, respeitosas, preocupadas com o próximo, cuidadosas para não magoarmos outrem. E passamos adiante, para nossos filhos, com um pouco menos de rigor, preparando-os para o mundo, esse mundo cheio de ódio, indiferença, inveja, covardia, preconceito, desrespeito aos mais velhos, ingratidão... mas graças a Deus, nossos filhos, educados por nós mesmas, são motivos de orgulho, para ambas.  

      Até ontem, eu achava que meus pais haviam exagerado no burilamento da minha personalidade. Hoje, como um milagre, abri os olhos, pela manhã, com uma visão diferente: assim como os pais de Meryl, os meus também acertaram. É preferível o rigor do que uma liberdade sem controle, onde a lei nasce dentro de cada um, o qual não a pratica, entretanto assume uma postura de falso paladino: gosta muito de cobrar dos outros, o seu cumprimento. A velha história... "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".
      Assim, sorte nossa, de Meryl e minha, que devido à rigorosa educação que recebemos, legamos ao mundo oito seres humanos, de primeira linha, que tão bem ilustram a nossa arrogante sociedade. E que Deus nos abençoe a todos.