Achei que Elder era a mãe de Rose, filha do velho Doador. Havia uma certa cumplicidade entre eles dois. Ele vivia profundamente amargurado porque era a única pessoa da comunidade que não usava a droga. Vivia como um ser humano normal e as lembranças, nuas e cruas o torturavam. Ela aparentava frieza, porque tomava o medicamento que zerava todo o tipo de sentimento. Quando procurava a Chefe e lhe falava em particular, ela se tornava um tanto ameaçadora... por não querer nem imaginar o retorno à realidade, para não sofrer pela possível filha morta... não queria que Jonas chegasse ao ponto de reverter a coisa toda - chegou a mandar caçá-lo e matar.
Acho que a sociedade estava mesmo prestes a falir porque os 3 amigos possuíam uma verdadeira amizade, consequentemente, sentimentos humanos. Seu amigo o encontrou e o liberou, ainda que tomando a droga diariamente. Ali já existia uma amizade verdadeira e muito forte.
Seria perfeito se pudéssemos saber como teriam se comportado todas aquelas pessoas, após a ruptura do sistema. Como as pessoas se olhariam e se veriam? Será que se lembrariam e ficariam horrorizadas com o crime contra os bebês gêmeos e/ou mais fraquinhos? E da "partida" dos anciões para Alhures? E as mulheres usadas como máquinas de reprodução?... Fiquei no vazio, com todas as perguntas no ar, sem as respostas...
E aquele sorrizinho de Meryl, quando tudo ficou colorido novamente... No livro não existe o relacionamento entre eles dois... mas será que, no final, Meryl se decidiu por deixar, no ar, a sugestão desse amor insurgente e proibido, para colocar a sua marca registrada de sensualidade, nessa história fria e seca?... São aqueles famosos toques de Meryl: Nem no livro nem no roteiro havia referência àquele envolvimento mas ela sempre deixa as suspeitas, basta querer. E sugere com tanta sabedoria que o seu toque se impõe no roteiro... Meryl feelings.
Ela é, verdadeiramente, o Gênio da Arte de Atuar! Os grandes diretores são justamente aqueles que já perceberam que ela atua com Instinto e Emoção. E confiam nela, em suas apreciações, deixando fluir essas duas grandes ferramentas de trabalho: elas trabalham a favor do seu enorme
Talento! Meryl sente que falta uma pedra no quebra-cabeça - uma espécie de elo perdido - que vai completar e levantar o roteiro.
O papel de Meryl, em "The Giver" era insignificante, sem vida, porque as personagens não tinham emoções. Ela se resignou a isso, mas não se conformou. Sutilmente, passou a mensagem de uma 'provável' maternidade com o Doador. Ela sabe que quem acompanha o seu histórico cinematográfico vai captar a mensagem de seus olhos, de seu quase imperceptível sorriso. E todo mundo saiu do cinema acreditando que roe era filha dela com o bonitão, irresistivelmente, charmoso e amoroso.
Isto é ser Atriz de verdade! Somente os grandes diretores, os mais sensitivos, deixam Meryl solta para que ela possa dar vazão ao que há de mais profundo e pessoal, em sua Arte. E que Deus a abençoe!
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