Meryl Baby

Meryl Baby

terça-feira, 3 de abril de 2012

Meryl Streep:"o tempo não pára".

                                                     
                                                                                 
          É somente um verso de Cazuza. Não faço alusão a qualquer outra coisa. Não é um clichê contemporâneo. Na verdade, o tempo não pára para nenhum de nós. Este é o consenso da sua implacabilidade. A sorte é estarmos vivos e, portanto, com um tempo de viver, trabalhar, amar... e aproveitar tudo de bom que a vida nos possa oferecer. Agora é seguir em frente, sem parar, colhendo os frutos do que plantamos, no passado. A esta altura, a colheita é farta. Feliz de quem plantou o Bem e trabalhou em prol dele.
            Meryl e eu somos da mesma geração, a pós-guerra, distantes dois anos, uma da outra. Amadurecemos logo, por Amor as oito Responsabilidades que geramos. Então, existem coisas que deixamos de fazer, porque demos prioridade a outras, ou outrem.  Na realidade, o que fizemos foi extrair um capítulo, das nossas histórias, e recolocá-los, mais adiante. De forma singular, adiamos os acontecimentos, mas não desistimos deles. Poderíamos ter feito isso. Entretanto, seria desistir, sair do jogo da Vida. Por isso, ainda temos algumas cartas  reservadas, provavelmente, as mais altas, os grandes trunfos, fortes, congelados no tempo e, por conta disso, tão jovens quanto éramos, quando optamos pelo adiamento. E eles retornam vigorosos, vorazes, aspirando tudo que lhes pertence, sedentos de vida não vivida, trancafiados no Passado, receosos, que estão, de que o Futuro não lhes dê outra chance. 
            Mas valeu o tempo da espera. Agora, o prazer é maior. Há mais espaço, em nossas vidas. Várias etapas laboriosas foram vencidas. Conscientizamo-nos de que o Tempo passa rápido. Transferimos, para depois, a parte melhor. Precisamos aproveitar, tudo, plenamente... completamente. A sede do prazer é muito grande, antiga, carregada de paciência e silêncio: foi uma longa gestação.
                                                                               
                                                                                
             Quando vejo Meryl, num palco, misturando discurso e diversão, penso que não é um presente só para a assistência: é para ela também. Eu compreendo. Quando a vejo, correr para o palco, onde há um prêmio a sua espera, emocionada, feliz... eu compreendo. Em 2012, Meryl recebeu prêmios importantíssimos e explodiu felicidade, para todos os lados. Especialmente, pelo Oscar. A grande campeã, da noite, sem sombra de dúvida, foi ela. Sua alegria era tanta, que se agitava, parava... o olhar distante... suspirava fundo, falava baixinho "I don't believe...", suspirava de novo, passava os estrelados olhos, ao redor, alheia a tudo, quase em estado de graça... Aquele era o seu grande momento pessoal, o encontro com ela mesma, a sua Unidade! Ela estava flutuando, dentro dele, leve, cheia de luz... Imagino que a sua Emoção estava em plenitude total. Ela, que é capaz de sentir t-u-d-o, de se doar toda, dentro de uma personagem... provavelmente, sua Alma levitava, em estado de paraíso! Finalmente, dava-se o direito de ser, naqueles instantes mágicos, a maior de todas as personagens, a de sua própria história!

                                                                           
 Lágrimas de alvíssaras, sem controle, corriam, livremente, pelo seu rosto, ao encontro do sorriso perene. E as entrevistas, os abraços, as conversas, os beijos, o carinho dos amigos verdadeiros, dos colegas, dos admiradores... Tudo ótimo, tudo maravilhoso... Mas Meryl estava ali, presente, em estado onírico, mais do que nunca, lotada de Emoção!... Mas em Paz. Sentou-se, "...I will hit the bar!", de frente para o troféu e uma taça de champanhe. Aquele fato era novo, fugia há tanto tempo da sua realidade... ela quis aproveitá-lo todo. Precisava ficar isolada, com ele. Meryl tinha sede desta felicidade. "I'm thirsty!..." A champanhe relaxou, um pouco, sua Emoção.

                                                                            
 Estava tão feliz que não se importou de abrir suas comportas e devassar o seu prazer. Eu compreendi. Acho que todos compreenderam, ex imo corde - do fundo do coração.

              " Não indagues, Leocónoe, ímpio é saber;
                            a duração da vida
              que os deuses decidiram conceder-nos,   
              [...]
                             Enquanto conversamos,
                             foge o tempo invejoso.
              Desfruta  o dia de hoje, acreditando
              o mínimo possível no amanhã. "

                   Horacio - 'Poesia grega e latina'
                                   Editora Cultrix - 1964

2 comentários: