| N° Edição: 2204 | 03.Fev.12 - 21:00 | Atualizado em 17.Set.12 - 15:48
" Eu felicito as mulheres no Poder. "
A atriz que concorre ao Oscar, interpretando Margaret Thatcher, diz que Dilma é corajosa e que apoia cada mulher que "consegue bater o pé".
por Elaine Guerini, de Londres
MATURIDADE
Meryl vê muitas vantagens em envelhecer:
“A vivência me permite encarnar
todas as idades pelas quais passei.”
Meryl Streep, a grande dama do cinema mundial, caminha para conquistar o terceiro Oscar da carreira. “Se quero mais um? Claro! Os que tenho estão cobertos de pó na prateleira da estante. Afinal já faz 30 anos que os ganhei’’, disse a bem-humorada atriz, referindo-se às estatuetas recebidas pela performance em “A Escolha de Sofia’’ (1982) e em “Kramer vs. Kramer’’ (1979), quando foi considerada a melhor coadjuvante. No próximo dia 26, Meryl vai estar no Kodak Theater, em Los Angeles, defendendo o seu melhor papel em décadas. A artista com mais indicações na história do prêmio – 17 no total – concorre agora pelo retrato humano da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher em “A Dama de Ferro’’. No filme que estreia no dia 17 no Brasil, a primeira e única mulher a ocupar o posto de premiê na história do Reino Unido (de 1979 a 1990) é uma senhora na casa dos 80 anos acometida pela demência senil. Confusa e vítima de alucinações, ela revisita os fatos mais marcantes de sua vida. Meryl diz por que aceitou o papel: “Não me interessaria por um filme político. É uma história sobre a dureza de envelhecer, mesmo quando no nosso íntimo ainda sentimos como se tivéssemos 20 anos.’’ Na entrevista a seguir, concedida no Soho Hotel, em Londres, a atriz elogia a presidente Dilma Rousseff e diz que se preocupa com a boa forma. “Vivo em constante briga com a balança”, disse ela, muito elegante, bem mais magra e aparentando bem menos que seus 62 anos.
Istoé - O Oscar ainda é importante em sua carreira, mesmo sabendo-se que já conquistou duas estatuetas?
Meryl Streep - " Sim, é importante. Quando sou indicada a um Oscar, significa que fui destacada pela categoria de atores da Academia. Ninguém mais pode votar, a não ser os atores. É sempre um grande feito ter a aprovação dos seus colegas. São as pessoas que sabem como é duro atuar e são realmente as mais qualificadas para avaliar o que fez ou deixou de fazer. "
Istoé - Como se sente ao ser a recordista de indicações?
Meryl Streep - " Isso me faz lembrar que também sou a recordista em discursos de agradecimento nunca usados (risos). Tenho 14 deles dobradinhos na gaveta. É hilário ver aqueles papéis ficando cada vez mais amarelados. Poderia fazer um livro com esses textos desperdiçados. Um bom título seria: “Os discursos que nunca foram declamados’’ (risos). Mas já estou preparando o próximo. Para quem já escreveu 14, o que é fazer mais um? "
Istoé - Filmar “A Dama de Ferro’’ fez a sra. pensar nas poucas mulheres que estão no poder atualmente, como Dilma Rousseff, a presidenta do Brasil?
Meryl Streep - " Dilma é corajosa! Eu a felicito e as outras mulheres no poder por imaginar que ainda existe certo desconforto quando uma mulher conquista uma posição de liderança no cenário mundial. Cada mulher que consegue bater o pé, se fazer ouvir e se tornar uma líder abre um pouco mais a porta para as que virão depois. "
Istoé - Houve muito avanço nesses últimos 30 anos, desde que Margaret Thatcher quebrou essa barreira ao chegar ao poder?
Meryl Streep - " Não muito. É preciso estabelecer mais paridade no governo para que não haja tanta diferença entre homens e mulheres. O cargo de presidente ajuda muito como figura simbólica, mas só teremos um mundo mais equilibrado quando mais mulheres estiverem trabalhando no governo, de uma forma geral. Elas precisam estar lá para tentar fazer as mudanças na educação, na saúde, no meio ambiente e em outras áreas às quais a mulher tradicionalmente dá mais importância. "
Istoé - Para chegar ao cargo de premiê, Thatcher precisou sempre estar mais preparada que todos ao seu redor. Por ser considerada a maior atriz do cinema atual, sente a mesma pressão?
Meryl Streep - " Não é bem assim. Qualquer um que ama o que faz tenta dar o melhor de si. Às vezes consigo me sair bem. Outras, nem tanto. A atriz formidável é uma invenção dos outros. Não é minha. Também tenho as minhas inseguranças. Meu marido (o escultor Don Gummer, com quem Meryl está casada há 33 anos) as conhece bem. A cada novo papel, ele sempre me ouve dizendo que não vou conseguir. Não sei como ele me aguenta (risos). "
Istoé - O filme não aborda apenas a Thatcher que conduziu a Inglaterra com mão de ferro. Mostra também a sua faceta de esposa e mãe. Isso ajudou a sra. a se transportar para o papel?
Meryl Streep - " Claro que eu sei bem o que é um casamento de longa duração, o que isso significa e o que realmente importa na vida a dois. Para manter a união, você precisa se agarrar a ela, mesmo nos momentos mais turbulentos. Não é fácil, mas é reconfortante mantê-la após tantos anos. A maior contribuição que dei ao papel, a partir da minha experiência de vida, foi outra. Estou velha! E ter passado dos 60 anos me fez entender e aceitar tudo com mais facilidade. "
Istoé - A sra. se sente velha?
Meryl Streep - "Nós todos estamos caminhando para essa direção. Não há como escapar. Desde que perdi os meus pais, penso muito mais na mortalidade e no desapego pela vida. A verdade é que eu também já sinto na pele o que é ter a capacidade diminuída, seja no corpo, seja na mente. Às vezes, estou na minha casa e subo ao andar de cima. Mas, quando chego lá, não me lembro do que fui buscar. Aí eu volto ao andar de baixo, na esperança de que o pensamento volte. Mas há vantagens em envelhecer. "
(continua)
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Entrevistas com Meryl são lições de vida e de humildade! Ela é, simplesmente, adorável!
Que Deus a abençoe!
Observação:
Estas fotos fazem parte desta entrevista, mas foram tiradas na Austrália, quando Meryl foi promover o filme "Mamma Mia!".
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