Meryl Streep, se eu pudesse realizar...

             ... tudo o que penso, o que sonho, o que desejo... mas não passam de sonhos, de "viagens", como dizem os meus filhos. Realmente, a minha imaginação é rica, muuuuito fértil... "viajante"! Às vezes, isso me incomoda demais. Uma imaginação rica, assim, na verdade é pobre, desde que não se realiza. É até perigosa, se você não souber controlar os caminhos infinitos dela. Em parte, ela me é útil, posto que escrevo. Mas, afinal, quem sou eu? Um robô, com memória textual? Na verdade, eu tenho uma vida, também rica. Mas não poderia escrevê-la toda: não daria tempo. No mínimo, precisaria da metade do meu tempo de vida... Não acredito que, aos 97, minha cabeça ainda prestasse para alguma coisa... (rs) a minha autobiografia ficaria pelo meio... Não, não vale a pena.

                                                                           

           Paradoxalmente, visto que você é livre dentro da sua própria cabeça, imaginação é fato válido. Então, eu sou uma profunda pensadora e não abro mão, facilmente, dos meus sonhos. Alguns estão catalogados e acondicionados em gavetinhas herméticas, dentro do meu livre espaço mental. De vez em quando, libero alguns, os quase irrealizáveis, e deixo que eles dêem uma voltinha, lá fora de mim, para não ficarem amarelados. Mas nunca desisto deles: com esses, justamente, eu tenho o maior carinho. Quem sabe, "o inesperado faça uma surpresa"?...

                                                                               

           Bem, estar num set de filmagem, quietinha, "morformigada", vendo Meryl ensaiar, atuar, rir brincar e alegrar todo o cast... é um desses sonhos que eu não quero, nem vou deixar, que amarelem. Mas existe outro, também, irmão deste: estar com Meryl, precisamente, em sua cozinha. (rs)

                                                                      

           Conversando com uma amiga de trabalho, ela me perguntou: 'por que logo na cozinha?' Sei lá, mas acho que é um lugar onde ela deva se sentir à vontade. Toda mulher passa um tempo do dia, neste cômodo. Algumas, um tempo maior; outras, menor. Mas é de lei. Muitas vezes, as amigas ficam lá, também, para conversarem, durante o preparo da refeição. Particularmente, acho que é um lugar bem descontraído: para se trocar ideias, para se revelar segredos, para se trocar receitas e truques culinários, até para se divertir com as histórias que cada uma tenha para contar... é um espaço tão íntimo, tão pessoal... e amigas são próximas, se gostam, se compreendem... Ainda mais, se estiverem brindando e bebericando um vinho gostoso, o prazer se completa! Além do que a cozinha é o miolo do lar! Quase tudo de bom está ali!

                                                                                       

           Fico imaginando Meryl circulando por ela toda, fazendo macarrão com couve-flor; vagens; assando frango, peru, costeletas; confeitando e/ou comendo um bolão de chocolate, ou um croissant; fazendo e/ou comendo sanduíches; fritando ovos com bacon (será?...); comendo pizza, peixe; cortando salame; tomando sorvete; descascando laranja com os dentes; lavando a louça, espremendo a esponja e enxugando a mão num paninho, na beira da pia, a sua esquerda... Muito fofa! Imagino Meryl conversando e fazendo estalinhos com a língua, enquanto pensa numa palavra exata para falar, e rindo muito, com as amigas, na cozinha, enquanto prepara o jantar para um monte de gente... Como eu adoraria estar "morformigada", num cantinho, rindo muito, muito, de total felicidade, diante daquele show de gracinhas!... (sem perigo dela me ver ou ouvir porque a gente não escuta as formigas...) Às vezes, eu a vejo, na minha imaginação, descalça, como a Francesca e a Jane... Ah, minha imaginação... o que seria de mim, sem você?

                                                                               

          Deus abençoe a minha querida Meryl!