Esta é a última parte da entrevista que começou ontem. Aula de humildade, realmente! Meryl é a pessoa mais querida e fofa, do mundo do Cinema e do Teatro!...
Istoé - Quais?
Meryl Streep - " Conforme envelheço, baixo a guarda e penso menos em tudo o que me preocupava quando eu era jovem. É um alívio. A vivência me permite encarnar com autoridade todas as idades pelas quais já passei. E isso é muito importante na profissão de atriz. "
Istoé - Não se sentiu na obrigação de conhecer Thatcher, pessoalmente?
Meryl Streep - " Não pude falar com Tatcher pelo fato dela viver reclusa e sofrer de demência. E, na verdade, nem tentei. Isso não seria necessário, já que o filme é muito subjetivo, supostamente visto pelos seus olhos. Geralmente eu interpreto uma personagem fictícia ou verídica. E só no caso de uma personalidade real eu me sinto na obrigação de fazer justiça a sua imagem. Aqui, curiosamente, fiz as duas coisas. Tive de imitar a Thatcher do passado e inventar a do presente. Na composição dessa segunda, eu me senti completamente livre. "
Istoé - Foi difícil encarnar uma mulher tão fria?
Meryl Streep - " Há um retrato muito rígido a respeito de quem ela foi, principalmente quando estava no governo. Thatcher costumava manifestar as suas opiniões de forma grandiosa, mas sem demonstrar nenhuma emoção. E quem conviveu com ela diz que a ex-premiê não tinha o menor senso de humor. Pelo que eu pesquisei, Denis Thatcher (o marido, vivido nas telas pelo ator Jim Broadbent) tinha humor de sobra. E talvez tenha sido esse o trunfo que ele usou para conquistá-la. Mas acho que é preciso entender o que Thatcher conquistou. Winston Churchill (primeiro-ministro britânico nos anos 1940 e 1950) podia chorar à vontade em público. Nele essa característica era charmosa, demonstrando a sua humanidade. Se Thatcher chorasse, isso seria tomado como um sinal de fraqueza e de sua inaptidão para o cargo. Ela era fria talvez por necessidade. "
Istoé - Até que ponto a sra. precisa gostar da personagem para interpretá-la?
Meryl Streep - " Não costumo julgar as minhas personagens, o que elimina a possibilidade de eu gostar ou não de alguém que interpreto. Mas confesso que me senti atraída por essa qualidade subversiva do filme, de tratar Thatcher como um ser humano. As pessoas parecem se esquecer disso, por ela ter sido uma figura tão controversa na política. "
Istoé - Como se sentia com relação a Thatcher, quando ela estava no poder?
Meryl Streep - " Politicamente, eu era muito desconfiada. Sempre fui assim. Quando era mais nova, eu ainda tinha uma tendência a simplificar as coisas. Eu só me perguntava: esse político é um cara bom ou ruim? E o problema é que, naquela época, Thatcher estava alinhada com a política de Ronald Reagan, de quem eu discordava muito. Então já dá para imaginar que eu não me simpatizava muito com ela. Thatcher ainda tinha um penteado terrível e usava roupas feias (risos). "
Istoé - Nos anos 1970, durante a ascensão de Thatcher, o que a sra. estava fazendo?
Meryl Streep - " Em 1977, eu me formava em drama na Universidade de Yale. E em 1978, eu já me casava com Don, que era um amigo de longa data de meu irmão Harry. "
Istoé - Já tinha a certeza naquele momento de que seguiria a carreira de atriz?
Meryl Streep - " Não. Ainda estava dividida entre ser atriz ou advogada especializada no meio ambiente (risos). "
Istoé - Como foi viver uma senhora na casa dos 80?
Meryl Streep - " Minha mãe costumava dizer que há dois palavrões na língua inglesa: gordo e velho. E foi esse aspecto da velhice de Thatcher que mais me interessou. Qual filme nos dias de hoje se preocuparia em contar uma história, do ponto de vista de uma idosa? O velho é a pessoa menos importante e interessante para a sociedade consumidora. Ninguém quer saber dos velhos. É essa a verdade. "
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Que lindeza de pessoa! Deus a abençoe!
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