Meryl Baby

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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Entrevistando Meryl Streep (3)





          John Patrick Shanley dirigiu Meryl em "Dúvida". No término das filmagens, ele próprio a entrevistou: 
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           Meryl, Meryl Streep foi a primeira pessoa em quem eu e todos pensamos para a Irmã Aloysius. Porque parecia uma ideia inevitável. E ela aceitou, de imediato, porque acho que sentia o mesmo.
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   JPS: Então, para começar, acho que foi ver a peça. E pode me dizer como foi? (Meryl ri.)
    MS: "Foi ótimo. Uma grande noite no teatro. Uma das melhores noites, no teatro, que já tive. Porque não sabia nada sobre a peça. Eu estava atrasada, em relação aos outros. Sentia culpa por não ter ido antes. E todos me diziam que eu tinha que ver. E ninguém me contou sobre o que era. Então não fui, porque ninguém queria me contar, sobre o que era. Mas, finalmente, eu fui. E fiquei impressionada, porque... entendi porque ninguém me contou sobre o que era... porque isso estragaria tudo."
  JPS: Sim.
   MS: "De qualquer forma, Cerry Jones foi um soco no meu estômago, no final da peça. E eu já havia sentido várias emoções, com a peça, mas fiquei chocada com o final, e nunca sinto isso, no teatro. Fui afetada por muitas das atuações, muitas performances."
  JPS: Então, agora gostaria de falar um pouco como foi trabalhar com seus colegas de elenco. Gostou da escolha de Philip Seymour Hoffman, para o papel?
   MS: "Acho que ele é uma das minhas pessoas favoritas, para trabalhar, na minha vida. Quero trabalhar com ele outras milhares de vezes: ele faz o personagem ser tão humano!"
  JPS: Já havia trabalhado com Amy Adams, antes?
  MS: "Foi delicioso." (riso) "Há poucas atrizes jovens que realmente podem passar essa inocência, sendo... Ammm... sabe? A neve puríssima. Ela consegue."
  JPS: Como mãe...
   MS: "Yeah?"
  JPS: A cena que faz com Viola Davis, onde ela diz aquelas coisas e...  Bem, como foi isso?
   MS: "O trabalho dela é tão bem feito e revelador, sabe? É ótimo, é ótimo!"
  JPS: As pessoas expressam sua identidade de tantos modos diferentes...
   MS: "Hum, hum..."
  JPS: ... que tem a ver com as roupas, com os óculos que usam.
   MS: "Yeah. Isso é uma escolha."
  JPS: Não se pode escolher nada quando se usa um hábito.
   MS: "Hum, hum..."
  JPS: E, como uma atriz (apontando para Meryl), expressando sua identidade ou seu ponto de vista, imagino que seja direcionada quase como a touca direciona seu rosto para a frente (demonstra com as mãos) e não para os lados. 
  MS: "Acho que não tem uma escolha. É como na minha cidade: havia as crianças nas escolas e havia as meninas que iam para a escola católica. Você pensa: bem, elas tem um uniforme." (ela sorri, fecha os olhos, faz sinal que não, com os dedos indicadores, das duas mãos.) "Nã, nã, nã, não!" (coloca as duas mãos retas, paralelamente e, com os olhos semicerrados, olha, sorrindo, maliciosamente.) "Só significa que o número de escolhas diminui. Mas as escolhas, em como são diferenciadas" (juntando os dedos, de cada mão e abrindo-os, para o ar, para cima) "são tão eloquentes e grandes! A altura da saia." (dando um exemplo) "É a mesma coisa com a Irmã Aloysius. Todas usam um chapéu que faz assim" (as duas mãos, lateralmente ao rosto, porém, abertas) "mas pode dobrá-lo desse jeito" (reduz o espaço, entre as mãos e acima da testa) "... 'pendant'. Entende o que eu digo? É tudo uma escolha. Onde você usa o rosário. Algumas pessoas... Quando falei com as freiras, cada uma tinha um jeito, que era o modo de fazer, de dobrar o rosário. 'Este é o modo certo.' Mas cada uma tinha o seu jeito. ENTÃO, A INDIVIDUALIDADE EXISTE. SEMPRE EXISTE."
JPS: Yes.
 MS: "So is her."
JPS: Há todo tipo de fé e cada fé  é testada de um jeito ou de outro. Nunca havia visto as irmãs de caridade mostradas em outro filme ou peça e pensei que as pessoas se interessariam em saber como são elas.
 MS: "Quando vi o filme, me envolvi na emoção dele, nos seus argumentos e paixões, essas coisas. Mas não estava preparada para a sua beleza. É muito...Roger Deakins, o cineasta... é como... você sabe, é lindo! E cada pessoa o vê, de um jeito diferente, de acordo com o seu passado, suas emoções também ('emocional conections too.') Não é só a igreja, é a autoridade, certos tipos de autoridade ('celestial authority and temporal'). Pode ser visto de vários modos.
JPS: Todos temos que lidar com isso, ao longo de nossas vidas. Nunca se tem certeza de nada e, às vezes, mesmo assim, precisamos agir. A história permite que acompanhe o conflito de ter certeza, num mundo incerto. Espero que sejam pegos pelo mistério e, então, num certo ponto, que transcedam e pensem, sabe? "Na verdade, me interessei por outras coisas... pelo meu próximo."
          A verdade é que Meryl colocou tanta emoção nesta personagem que, dificilmente, as pessoas resistirão, ao assistirem este filme. Eu me emociono demais e considero a cena final uma das mais lindas e comoventes: amo a forma angustiada e frágil com que ela chora. Que cena! É incomparável, a nossa Meryl! É sublime!
 

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