Meryl Baby

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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Entrevistando Meryl Streep (16 )

            Esta é a 2ª parte da entrevista começada ontem.  

 
          
             Nora: ... e isso foi divertido de fazer.
             Charles: E tinha outras coisas como sexo e comida...
             N: Julie Powel estava chegando aos 30, foi embora com Ernest. Era realmente muito esperta e muito talentosa, trabalhava na “Manhattan Development Corporation” (Sociedade de Desenvolvimento de Manhattan) ou sei lá o nome disso, lidando com todas as vítimas do 11 de setembro. E acredito que ela aceitou aquele trabalho pensando que seria muito gratificante e depois notou que era inacreditavelmente difícil. Era muito fatigante, no final do dia, e creio que ela faria qualquer coisa, quero dizer, essa pequena idéia dela de fazer um pouco, a cada dia, fez com que ela executasse de verdade. Ela atingiu isso! Concluiu algo que cozinhou, desse livro, e daí, na manhã seguinte, às 05:30 ela podia perfeitamente estar de pé. É algo notável o que ela fez. E foi o que Julia fez. As duas mudaram suas vidas. E Julia, uma das coisas que fiquei exaltada quando comecei as pesquisas, é que ela parecia tão imutável, mas se tornou Julia Child, apenas aos 50 anos. Essa pessoa que foi famosa a minha vida inteira...
              C: Não tinha se tornado famosa até ter 50.
              N: ... tinha 50 anos, quando seu livro foi publicado. Até então não era Julia Child.
              C: Ok, mas ela se tornou Julia Child, ela se tornou esse tipo de pessoa quando se achou na França. Digo, a França abriu todo o caminho para ela, antes de ir para a tv e ficar famosa.
              N: É, mas acho que ela sempre foi muito... que ela adorava a França. E acordou para a vida na França, achou o seu chamado, mas nisso eu acho que ela passou cerca de 8 anos dizendo “Sabe, eu estou escrevendo um livro de culinária”, enquanto todos diziam: Ah, tá! Claro que você está fazendo, querida!
              Meryl: "Era como se dissesse: Vou escrever um livro para crianças. O que muitas pessoas fazem e continuam, mesmo sabendo que há 35 páginas. É, isso é muito interessante para mim. Como eles se apaixonaram, o sentimento tão forte que ele tinha por ela antes dela saber o que queria ser e por muitos anos antes dela saber se isso ia dar certo."
               C: Como você acha que ele fez isso?
              Meryl: "Como não poderia? Quero dizer, de certa forma ele era um homem incomum. Eles se conheceram na China..."
              C: Ele era cosmopolita, amava comida, vinhos, livros.
              Meryl: "Sim, creio que eram anos 40, quando se conheceram."
              C: Uns dez anos depois...
              Meryl: "Sim. Ele teve um amor durante muito tempo, que morreu. Ele foi, sabe... ultrapassou coisas, mas sempre quis algo real, foi o que pareceu para mim ao ler, sobre eles. E ele achou alguém real e simplesmente amava isso nela, essa coisa de vivenciar diretamente a indecisão dela desde os primeiros anos até os últimos anos. Aquela freqüente intensidade dela, que tinha como caráter."
              C: Se você tivesse alguém que fosse tão pronunciada em tamanho, em personalidade, em voz, distinta e diferente quanto ela para fazer, seria mais fácil ou difícil?
              Meryl: "Bem, depende se eles estão te olhando. Quando eu fiz Heartburn, lá estava ela, no set, e eu não conseguia fazê-la de verdade, mas há certos tipos de elementos que eram irresistíveis. Sabe, me senti como se estivesse numa jaqueta apertada!"
              C: Como quais elementos?
             Meryl: "Oh... o jeito de ressoar uma frase. Algo como polir o que se diz, com a frente de sua boca." (todos riem)
             C: Isso é o tipo de coisa que te faz ser, loucamente convincente! (Aponta para a Meryl).
            Meryl: "Só acho que é bem melhor quando eles não estão lá, te observando. É minha única necessidade."
             C: Ok, mas vamos voltar para quando a interpretou. O que estava tentando captar dela?
             N: Julia?
             C: Não, oh, Nora! (ironizando)
             Meryl: "Não, não, não! Estávamos naquela ponte!” (Meryl imita Julia.)
             C: (rindo) “A ponte!” Você poderia fazer isso de novo?           
            Meryl: "Não. Sabe, foi muito familiar. O esboço era muito familiar para que as pessoas não reconhecessem aquilo e assim também foi para mim, mas de certa forma, a versão de Danny Acre estava muito mais vívida, em nossas mentes. Era quase um tipo de caricatura que se tinha. E eu não quis... eu quis olhar para ela do jeito idealizado que Julie fez. Eu queria assim, porque era a imaginação de Julie para Julia, o que ela em sua cabeça imaginou ter essa nobre parceria com ela, com o marido dela. Eu só quis fazer o mais realista que isso pudesse ser, mas não senti que tinha a necessidade de ouvir todos os elementos que busquei de Julia. Só queria fazer um ser humano que viveu."
             C: Você viu muitas fitas dela?
            Meryl: "Sim, mas algumas delas foram incrivelmente em vão, não ajudaram. Porque o show se tornou mais performático na vida dela depois, mas nos primeiros, quando ela se colocou pela primeira vez diante da câmera, e naqueles dias o que é difícil de se lembrar é que as pessoas não sabiam como elas ficavam nas gravações. Eram fotografadas no palco e daí lançadas na tela da tv. Então ela meio que nesses primeiros parecia saber quem ela era, que tinha 50 anos, já estava formada, pronta, entende... "


            C: Você acredita que o sucesso é melhor quando chega tarde, na vida?
            N: Bem, sucesso é bom quando quer que chegue.
            Meryl: "Porque você nunca sabe quando ele vai embora e quando ele volta, às vezes."
            C: Anuncia outro clipe de Julie & Julia.
            M: "E ela era tão verdadeira!"
            N: Eu sei, ela era tão natural, não precisava ficar segurando o rosto até o fim, abaixava-o.  (a Julia, no vídeo, não espera a gravação sair do ar e faz isso).
            Meryl: "Esse abaixar o rosto... eu adorava isso!"
            C: Mas por trás das câmeras, ela era tudo isso que vimos, com a Meryl?
            N: Bom, meus amigos que a conheceram, digo, um amigo meu Bob Galey, que era chefe de setor, quando publicaram o livro, disse que ela era uma árvore de Natal, era um ser humano deslumbrante, uma pessoa grande, deslumbrante, era irresistível, todos se apaixonavam por ela. Quando ela se mudou para a França, porque viveu em países aonde era mais alta ainda, foi para Londres, China e depois França. Num piscar de olhos, qualquer pessoa por perto a reconhecia, pois ela deixou todos perplexos, literalmente, mas relaxou todo mundo quando mostrou ser...
            C: Maior do que isso.
            N: Isso.
            C: Mais do que uma característica de tamanho.
            N: Ela era a tal. E sinto muito por nunca tê-la conhecido.
            Meryl: "Eu também."
            N: Porque acho que ela era um dos poucos que não te deixam, emocionalmente, desapontado, como pessoa.
            C: Ela era... eu me lembro, era inacreditável, cheguei a fazer televisão com ela... vocês verão melhor depois, aquilo tudo até quase os 92 anos... (outro clipe do filme, agora com cenas de Julia Child e seu esposo interpretado, por Stanley Tucci).

                                Continua...

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