Meryl Baby

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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Entrevistando Meryl Streep (17)

              Muito interessante a participação da Meryl nesta parte da entrevista, na verdade, uma conversa entre ela, Nora e Charles.

 

            Charles: Isso não era um bom casamento! Eu nunca soube que num bom casamento se podia conversar assim!
             Nora: É verdade, eles se ajudavam o tempo todo onde quer que estivessem.
             C: E como ele aceitou o sucesso dela?
             N: Ah! Você está brincando?! Ele tinha 60 anos, ele basicamente...
             C: A carreira dele já tinham acabado.
            N: A carreira dele já tinham acabado e ele não tinha seguido a carreira com a qual tinha sonhado e, de repente, eles eram famosos, ela era famosa, ele também ficou. Ele ia a todo lugar que ela ia, era seu empresário. Era inacreditável, para eles, estarem no centro do universo aos 60 e 50, era fantástico para os dois!
            C: E ela indo cada vez mais alto... alguma falha aqui?
            N: No casamento?
            C: Não, nela.
            N: Nós não sabemos, mas não há dúvidas de que a Julia, mostrada no filme, era a idéia de Julie Powel, e eu, certamente, ao ler sobre ela, pensei “Eu não sou assim, não sou assim mesmo! Ela era um ser humano muito melhor do que eu jamais serei!” e acho que você partilha desse pensamento... (aponta para Meryl)
            Meryl: "Sim, eu senti que... quero dizer, você nunca conhece de verdade, os ins e outs (baixos e altos) de uma personalidade. Já é difícil entender uma pessoa em sua própria família, seus próprios pais... mas imaginar que você sabe da vida íntima e dos conflitos, de uma pessoa pública, é muito difícil, mas é eternamente interessante. Foi o que me fez querer ser atriz, ou seja, essa é a minha grande diversão... Mas pensei: eu nunca a conheci, mas tive um encontro com ela durante o tempo em que trabalhei, por cerca de 10 anos, com o grupo o qual chamo de “Mother’s and Other’s”, focando produtos orgânicos, em supermercados. Acho que era impossível não ouvir falar deles, mas ninguém os conseguia, e achei que seria uma ótima idéia requisitar a ajuda dela. No entanto, ela fugiu dessa, de um jeito bem repudiante, numa carta, e isso meio que fez meu mundo se despedaçar porque ela parecia ser alguém tão radiante... porém aprendendo mais sobre ela, aprendi que ela era muito resistente à idéia. E qualquer coisa a ver com aumentar o seu colesterol tinha a ver com qualquer coisa, menos com ela. E nisso deu para conhecer mais coisas."
            C: Eu pensei que ela ia adorar a idéia, porque a maioria dos chefs ama comida orgânica, não é?!
            N: Isso foi muito antes, porque ela mudou de idéia.
           Meryl: "Foi antes, ela mudou de idéia. Bem, Alice Walters pode falar mais sobre isso, mas ela mudou, pensou melhor... mas antes dela mudar, tinha um potencial gigantesco para se esquivar das coisas. É o que pareceu para mim, e isso estava lá."
           C: Vamos falar sobre a performance de Stanley, porque a todo o momento, você pode sentar aqui, olhar mais de perto e nisso enxergar uma cena. Isso é o que deve agradar a um diretor?  
            N: Não é como seu sonho, se você escreve uma cena como essa. Para ser honesta com você, o final daquela cena foi improvisado, o que Meryl fez. Bom, eu escrevi “terminando com a frase: Eu gosto de comer”. E daí, ele disse: “Você é tão boa nisso...” E ela disse: “Sou mesmo, estou crescendo bem na sua frente, sou mesmo...”. Esse é o seu sonho do que irá acontecer, quando dois atores estão completamente felizes, trabalhando juntos.
           Meryl: "Nós podíamos continuar nessa, infinitamente..."
           N: E eles fizeram mais disso, em algumas cenas.
           C: Mas é isto que eu ia lhe perguntar: (para Meryl) É seu sonho poder fazer isso?
          Meryl: "Meu sonho é ter um diretor que deixe você fazer isto, mesmo que vá cortar depois, no final. Porque isto faz você se sentir tão criativa... e você se sente como “Bom, tudo o que fazemos, está certo!”. É uma boa sensação, e nisto você tira uma boa surpresa."
          C: E um grande roteiro que te proporcione isso.
          Meryl: "Certamente! Isso tem que estar lá."
          (outro clipe do filme: dia dos namorados)
          N: Viu?... Aquilo não estava no roteiro (Meryl faz, com a mão, o coração bater, como Julia).
          Meryl: "Acho que estava andando pela Notre Dame, em uma das cenas, e pensei: “Eu sou Notre Dame e ele é a minha flutuante pilastra de sustentação...” (eles riem porque Meryl falou isto, com sotaque de Julia) Eu guardei essa imagem. Nunca mais vocês me esquecerão, por isso."


          C: Você pode dizer isso só mais uma vez? (rindo).
         Meryl: "Não... Ele é tão generoso e comovente... E acho que se pode dizer que nisto, tinha algo de bandido e cosmopolita, que chegava a ser terrivelmente sexual. Era quase como um outro tempo, e era outra época. O jeito com que Stanley alcança isto, sem esforço e sem muitas palavras, é maravilhoso!" 
          C: Tive essa impressão, que esse tipo de coisa deveria ter acontecido muito nesse filme.
          N: É o tipo de coisa que você espera que aconteça quando você faz um filme. É uma coisa que aprendi muito cedo, como escritora, porque eu comecei pensando “Não os deixe tocarem em nenhuma palavra do meu diálogo!” E daí, você começa a trabalhar com pessoas, que são bons escritores e são engraçados. Então, eles fazem melhor, eles mudam e fazem melhor, e você precisa ser aberto a isso, porque você sabe que não vai ser aproveitado na sala de edição, se não ficar. Mas, às vezes, fica muito melhor do que aquilo que você começou ou é apenas um crescimento natural da cena.
         C: Você disse que tudo o que fez com comida, durante a sua vida, lhe preparou para fazer este filme.
         N: Foi tão pessoal para mim, mesmo sabendo que era a história de outras duas mulheres. Eu adoro comida. Como vocês sabem, sou obcecada por comida, penso sobre isto, constantemente e, cresci na cozinha nova-iorquina, do livro de culinária de Julia. Escrevi um pouco sobre ela, uma vez, e recebi uma carta dela. Então, essa parte da história foi tão pessoal, que amei trabalhar nisso, amei tentar descobrir como unir essas duas peças.
         C: E quantas coisas, naquele livro, você costumava fazer?
         N: Três.
         C: E quais eram?
         N: Eram: o cordeiro, o beef bourguignon, que é uma das estrelas desse filme, e o peito de frango, com creme, que é maravilhoso!
         C: Então esses são os tais!
         N: Esse é o lance dos livros de culinária. Geralmente há 2 ou 3 coisas neles, que você adora e lhe fazem pensar: “Eu cozinho isso o tempo todo!” E daí, você descobre as 3 coisas que você ama cozinhar.
         Meryl: "Isso é tão verdadeiro!..."

         Meryl coloca emoção em tudo que faz. Não apenas capta o íntimo das pessoas, como, também, o íntimo das coisas. Ela fica ouvindo e absorvendo o teor da conversa. E quando faz um aparte, ele vem lá do fundo, do seu mergulho ávido e silencioso, em busca do que é mais abstrato e verdadeiro, para construir a sua nova personagem, da forma mais pura e perfeita, como adora fazer...  Ela está apreciando as colocações de Nora Ephron, que a dirigiu em "Julie & Julia". A cada palavra, ela mergulha mais, até atingir o serne da questão. Então volta. Volta à tona, com uma verdade definida, impossível de ser plagiada porque só ela foi, sozinha, lá no fundo, buscá-la. Amo isto. Assim, ela é a melhor atriz do mundo. Por isto atuar é seu prazer e diversão. É o seu trabalho que a transporta nestas "viagens" pela alma das pessoas e das coisas. É ele que a impulsiona à perfeição.   

            Continua...

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